segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Tarde da noite na estrada

Povo de roça, sempre tem algo assustador para contar. Desta vez a história se passou com o pai da minha mãe, ou seja, meu avô.
Vô José, este era seu nome. Como mencionei anteriormente, minha mãe morava em um sítio afastado. Minha vó ficava em casa com seus oito filhos pequenos enquanto meu avô passeava por aí pelo bailes da vida. Costumava chegar muito tarde, sempre de madrugada, vinha montado em seu cavalo, andava armado com um facão.
Passava por entre as árvores silenciosas e escuras na calada da noite, vinha só, ele e o cavalo no meio do breu, de vez em quando alguém passava por ele em sua carroça ou a cavalo. Ele não se importava, já estava acostumado a andar pela madrugada na noite escura. A estrada de terra batida era sua conhecida.
Ele passava pelo meio do cafezal e ouvia uivos distantes, não se amedrontava facilmente. Vez ou outra algum animal passava na frente do cavalo saindo de um lado da estrada para cruzar o outro lado, nestas situações, o cavalo bufava e estancava, depois continuava seu caminho.
Esta noite estava tudo meio diferente, a lua não brilhava cheia no céu iluminando a estrada, estava uma noite escura e sem luar, as estrelas também não estavam presentes, no lugar delas, as nuvens escuras e gordas como algodão passavam apressadas na frente da lua que tímida não conseguia iluminar quase nada.
Do meio do mato não se ouvia sons, os pássaros não estavam cantando, devia ser por conta do frio que realmente estava muito forte. O vento passava por entre as árvores e zunia alto e fino. Vô José estava ereto em cima do cavalo enrolado em seu casaco com o chapéu na cabeça.
Lá pelas tantas avistou algo no meio da escuridão, vinha em sua direção e ele não conseguia identificar bem o que era. A estranha aparição continuou a vir para o lado dele e o cavalo como era de se esperar resolveu empacar.
Ao se aproximar mais José viu que a estranha figura era na verdade quatro pessoas carregando uma cama com uma quinta pessoa deitada nela. Traziam a cama na direção dele e o cavalo aflito empinava-se e não passava. Ele tentou de todas as formas fazer com que o pobre animal avançasse sem sucesso algum. Por fim, pegando o chicote, chicoteou a anca do cavalo tão forte que este deu um salto alto e disparou estrada afora.
Ele nunca soube explicar o que vira aquela noite na estrada, mas uma coisa é certa... Nunca mais voltou para casa tarde daquele jeito.


Zé Anselmo

Há muitos anos atrás no bairro do Borá, havia um homem chamado José Anselmo, mais conhecido como Zé Anselmo. Ele era um senhor de cabelos brancos e encaracolados, vivia carregando um saco de ossos jogado nas costas. Era doente, até hoje não me lembro bem o que ele tinha realmente já que na época eu era muito pequena e morria de medo dele por conta das histórias que minha mãe e os vizinhos contavam.

Morávamos em um sítio bem afastado da cidade, era um local de difícil acesso com muitas árvores, a estrada de terra era próxima, mas para chegar até a cidade levava muito tempo a pé ou montado a cavalo.

Para chegarmos à escola demorava bem uns quarenta minutos andando ou mais, passávamos por muitos caminhos até chegarmos ao nosso destino. Geralmente enfrentávamos muitas aventuras, não gosto nem de lembrá-las, sinto o frio na barriga e a garganta seca de tanto medo. A parte pior de nossa ida à escola era atravessar o cafezal. Logo após o cafezal passávamos pelo meio de diversos pés de mangas, lindos, carregadinhos de frutas amarelo-avermelhada que davam água na boca e o perfume então? Desta parte gosto de lembrar, mas só até aí.

Lembro-me de que Zé Anselmo costumava subir na copa destas árvores para chupar manga e uivar. Parecia um lobisomem uivando daquela forma, a boca escancarada, os dedos sujos do caldo das mangas, o cabelo esbranquiçado revolto ao vento e a neblina que não nos deixava enxergar quase nada à nossa frente. A barra de nossas saias do uniforme ficava encharcada das gotas de orvalho que se acumulavam nas touceiras pelo meio do caminho, quando finalmente chegávamos à escola, nossos pés estavam molhados.

Nenhum de nós se arriscava passar por aquelas terras sozinhos, já era muito difícil chegar até ali, pois no meio do caminho precisávamos driblar os gansos que sempre corriam atrás de nós com o bico aberto e os dentes expostos. Crianças que moram na roça passam por maus bocados se já não bastasse tudo isso, ainda tínhamos que passar em frente a um casebre bem rústico na beira da estrada onde morava um senhor muito idoso, era bem magro, bem comprido e bem assustador. Ficava o tempo todo, todos os dias durante todos os anos sentado em sua cadeira de rodas com um cobertor enrolado nas pernas e de touca na cabeça atirando farelo de pão para as pombas. Eu particularmente era a mais medrosa dentre meus irmãos e só de ver aquele velho me enchia de pavor. O quintal dele era lotado de pombas arrulhando bem alto e eu batia o pé que aquele barulho era produzido pelo idoso. Durante muitos anos depois eu não podia ver um senhor idoso que me lembrava daquele ancião das pombas e o pavor me enchia novamente o peito... Novamente o medo das crianças é algo estarrecedor não acha?

Pois bem, certa vez nós estávamos a caminho da escola quando de dentro do nevoeiro avistamos a figura de Zé Anselmo no meio do caminho. Estava parado bem no meio da estrada igual uma pedra e segurava seu saco de ossos, uivava alto naquela manhã. Tínhamos que passar por ali, não havia outro caminho para seguir, nenhuma ponte, ou até mesmo uma estradinha na perpendicular, aquele era o nosso caminho.

Ficamos parados no meio do sereno tiritando de frio, mas não arredávamos o pé. Ele estava tranqüilo, não saia do lugar, só uivava. Ficamos tanto tempo parados por ali que nem percebemos o tempo passar, quando por fim ele resolveu continuar seu caminho já estava na hora de voltarmos para casa.
Nunca vou me esquecer deste dia, passei um medo tão grande que depois daquele ocorrido não me lembro mais de ter sentido algo tão horripilante como aquele episódio.

Como já havia dito, vida de criança não é mole! Zé Anselmo coitado era apenas um homem com alguma síndrome que desconheço, sei que me fez sentir muito medo quando menina, mas hoje em dia lembro esta época com saudades. Com certeza já deve ter morrido, afinal de contas ele já era um idoso quando nos assombrava... E aí, será que você se arriscaria a passear pelo meio do cafezal ao entardecer escutando os uivos de Zé Anselmo? Quer saber, definitivamente eu não toparia!

Conversas antes de dormir...

Todos sabem que as histórias contadas por nossos pais, avós e conhecidos, no fundo não passam de meras lendas urbanas.
Sim, lenda urbana na verdade é uma narrativa que é contada de indivíduo para indivíduo, ou seja, “Meu pai disse, que tinha um amigo, que escutou do vizinho...”
As lendas urbanas se originam assim, geralmente são histórias inventadas que mesclam folclore junto com algum costume da região em questão. São narrativas contadas oralmente normalmente por pessoas mais idosas, como uma avó, por exemplo, que mora em um sítio, esta é uma reação própria do lugar, dá asas à imaginação, as pessoas geralmente não têm nada interessante para fazer e são muito apegadas ao folclore, mesmo sem perceber, logo tudo sempre começa com uma noite de luar, na curva da estrada de terra batida, na porteira do sítio do Senhor Tal...
Normalmente estas lendas urbanas são batizadas de contos de terror “Eu nunca vi, mas fulano jura pela mãe que é tudo verdade!”
Esta coletânea de contos assustadores são histórias contadas por minha mãe, avó e pai. Sempre gostei deste tipo de narrativa e geralmente a noite quando eles sentavam-se no sofá para contá-las eu imaginava cada pedacinho da narrativa, saboreando cada frase.
Alguns contos, na verdade todos foram vivenciados por meu avô materno que sempre foi propenso a ver coisas estranhas quando voltava de suas andanças pela madrugada. Tenho predileção por elas, claro, afinal de contas são lendas urbanas perfeitamente legítimas, sem acréscimos e perturbadoras.
A intenção não foi criar um ambiente misterioso, nem acrescentar fatos, só mostrar exatamente o que eu sentia quando escutava estas histórias quando criança. Sentia aquele pavor incontrolável, sentava no sofá com as pernas para cima e só ia me deitar quando minha mãe deitava-se e não comentava nada para pegar logo no sono.
Sabem, estes contos nos fazem refletir não como os contos de fadas, mas nos faz pensar em como estamos conduzindo nossas vidas. Nos faz ver o real significado de uma boa conduta, creio que depois de ler estas narrativas todos pensarão melhor antes de circular por lugares ermos e sombrios...


Cinderela

Reprodução de um conto de fadas com um outro gênreo, desta vez em forma de poesia com rimas.

Cinderela muito bela
Esticava sua canela
Enquanto com a flanela
Limpava sua janela

Ela muito alegre
Limpava com esperança
Esperando que sua madrasta
A deixasse cair na dança

Chegando no fim do dia
Não teve muita alegria
Sua madrasta quem diria
Lhe jogou um balde de água fria

A madrasta enraivecida
Deu-lhe um tapa e uma sacudida
Empurrou-lhe na descida
E sorrindo virou-lhe a costa em despedida

Ao chorar desesperada
Viu uma luz na sacada
Era sua fada encantada
Que a vestiu em disparada

Chegou ao baile e dançou apaixonada
Ao ouvir a badalada
Saiu em arrancada
Perdendo o sapato na escada

Certo dia a sol quente
A campainha tocou de repente
Era o príncipe sorridente
Que a buscava para sempre!

Que tal ajudar a Cinderela a se vestir?
Cinderela
Cinderela