quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Nem sempre o que queremos, é o melhor...

Os olhos da garota vasculhavam o espaço vazio a sua volta. O som dos pingos da chuva caindo sobre os telhados vizinhos era inebriador.
 
A penumbra do começo da noite refletia o brilho dos faróis dos carros quando estes passavam pela rua e desenhavam formas estranhas e sinistras nas paredes do quarto.
 
Com os olhos fechados a garota escutava música.
 
De repente abriu os olhos “E se eu conversasse com ele?” até que seria uma boa opção pensou...
 
Levantou-se de sua letargia, se espreguiçou e correu para o computador, com os dedos ávidos percorreu as teclas do teclado emitindo um som suave e ritmado. Levou menos de um minuto para localizar o que precisava: o site oficial da banda. Olhou a agenda de shows e notou que os dois mais próximos seria amanhã e sábado, mais que depressa comprou seus ingressos e aguardou ansiosa o resto da noite.
 
Na manhã seguinte tratou de descobrir se ele iria ao show e que feliz coincidência, ela também estaria lá.
 
A parte da tarde foi só de preparativos, comprou uma roupa nova para o show, fez hidratação nos cabelos, mudou a cor do esmalte e por fim se arrumou. Não cabia em si de tanta felicidade. Combinaram de encontrar-se na portaria, antes de adentrar o local.
 
Ela realmente estava muito bonita, já havia recebido muitos elogios comprovando, porém o único elogio que valia a pena ela não escutou a noite inteira.
 
Durante o show algo de inusitado aconteceu... O vocalista da banda parecia que de vez em quando olhava para o lado onde ela estava... Será? Tentou não pensar nisso para não se decepcionar, mas por mais que insistisse em não olhar para ele, seus olhares sempre se cruzavam.
 
“Só pode ser piada” pensou... “Onde já se viu fantasiar com algo completamente impossível, tantas garotas lindíssimas por aqui e ele iria se interessar justamente por mim?”
 
Continuou com este pensamento até o final do show quando na saída foi abordada por um dos seguranças que ficavam bem próximos ao palco, impedindo que algum fã afoito subisse.
 
No começo ela ficou meio preocupada, desconfiada, mas aí, ele apareceu no canto da porta e a chamou, acenando por trás da cortina. Meio encabulada ela se aproximou, colocou o cabelo atrás da orelha e sorriu totalmente sem jeito. Conversaram por mais ou menos quarenta e cinco minutos quando ela avisou que precisava ir, pois o horário já estava bem avançado. Então ele chamou o seu motorista e pediu que ele a levasse até em casa. Combinaram de se encontrar no sábado, seria o mesmo show que ela também já havia comprado o ingresso.
 
Voltou para casa pisando nas nuvens...
 
Mas mocinha, já está enamorada por outro? E ao que ela respondeu “Eu não sei, só sei que não posso perder esta oportunidade”.
 
E o seu amigo?
 
“Que amigo... Rs...”
 

Crônica sobre o pequeno choro

Um temporal desabava lá fora e ele não se importava, pois dentro dele sempre houve nuvens de chuva carregadas, rompeu o portão da sua casa, andou ensopado até seu quarto, trancou a porta a casa sempre parecia mais bela quando todos dormiam.

Sentou na velha escrivaninha de madeira, acendeu uma ou duas velas, para o quarto ficar mais acolhedor, olhou e viu que tudo ficava mais belo iluminado pelo fogo, ele podia ver seus livros, Bukowski, Machado de Assis, Kerouac e também seu amado Don Quixote, todos ali, olhando para ele com aquele olhar de alento e ternura, homens que entendiam o seu doer solitário.

Sentou, sabia o que deveria fazer, chamou Tom com sua " Luiza " e Elis com sua " Fascinação ". Ele explodiu em pequenos espasmos, as lágrimas foram caindo no chão de madeira, o choro era pelo chorar, por que era poético, por que sua alma ficava mais bela quando as lágrimas desciam em seu balé, por que precisava, por que admirava as lágrimas rolando e com isso sabia que existia pureza dentro dele.

Quando peso ficava insuportável, fracassos, amores improváveis, desilusões mais do que diárias, ele tinha esse pequeno ritual, abraçado pelas vozes, pelos imortais, que ali estavam com suas letras, e a noite ficava banhada de chuva, dentro de um quarto a luz de velas.

Como é poético o chorar só.